Lições em tempos de Pandemia
Lições em tempos da Pandemia:
Primeira lição: Paciência
Todos sabemos que nas últimas décadas o avanço tecnológico aliado a uma estrutura capitalista estimulou em todos nós a urgência em tudo que fazemos, deixamos que as facilidades se transformassem em urgência.
A urgência para obter informações, não se tem mais paciência para ir a uma biblioteca silenciosa pesquisar sobre temas de interesse, busca-se rapidamente no google, estando num aeroporto barulhento, ou em um shopping repleto de pessoas que circulam. Não temos mais tempo para cozinhar, o micro-ondas resolve quando não é possível ir rapidamente a um fast food, ou mesmo comprar um lanche para comer enquanto se desloca para outro compromisso.
Não se consegue esperar a consulta médica, ou mesmo esperar para mostrar os exames realizados ao médico, se faz uma busca na internet tentando interpretar os resultados sem ao menos ter cursado um único semestre de medicina. Ou seja, os profissionais da saúde precisam lidar com uma variável que dificulta seu trabalho, acalmar e tentar explicar que o que o paciente encontrou na internet depende de muitas variáveis, e só então poder se deter ao que realmente interessa, o diagnóstico do paciente, que já não se apresenta de forma paciente.
E, eis que chega 2020, e uma Pandemia nos invade, feito um tsunami, sabíamos que havia esse vírus, mas novamente pensávamos que seria algo fácil e rápido de ser resolvido, uma vacina deveria vir tão rápido quanto a um fast food. A internet nos traria respostas claras e precisas. Estávamos equivocados, fomos surpreendidos com o fato que as informações podem ser muitas, confusas e de origem duvidosas. Que nem tudo que autoridades políticas falam é coerente, que temos que ter a paciência de esperar e seguir as orientações da ciência, e que mesmo a ciência precisa de tempo para nos trazer as respostas e as soluções necessárias.
E, de repente tivemos que ficar em casa, sozinhos ou com a família, tivemos que cozinhar, esperar o tempo passar, estamos todos em isolamento social, claro há aqueles que estão fazendo o trabalho arriscado de cuidar daqueles que adoeceram, aqueles que irão garantir que possamos ter acesso a alimentação, então o ideal é que o isolamento social seja em torno de 70%, dessa forma minimizamos os riscos de um contágio acelerado, que impossibilitará um atendimento de saúde com qualidade para aqueles que forem infectados e que irão precisar de cuidados hospitalares. É preciso paciência, e que esta se manifeste na forma de esperar até que seja seguro voltar ao normal, e talvez paciência para entender que teremos que construir um novo contexto, um novo normal.
O contraponto da paciência é a impaciência, ela se manifesta quando não nos conhecemos, quando não conseguimos lidar com nossas emoções causando estragos. E, como causa estragos, em uma Pandemia a sua impaciência pode causar danos de proporções inimagináveis. Então, é preciso controlar dominar a precipitação. Infelizmente essa atitude tem causado o rompimento do isolamento social, tem causado o aumento da contaminação e, infelizmente a cada dia aumenta o número de óbitos.
Os dados que recebemos por meio de noticiários e boletins oficiais são apenas números para muitos, mas para outros é seu amor, pai, mãe, filho, sobrinho, amigos, alguém que amavam, que não puderam se despedir, nem ao menos enterrar com dignidade. É uma perda, é uma dor, uma ferida aberta que os números não representam. Segundo especialistas a cada morte, há cerca de seis a dez pessoas sofrendo a dor do luto – como familiares e amigos mais próximos. Não podemos ficar indiferente a esse sofrimento, precisamos buscar em nós a empatia que nos fará compreender com mais integridade a real necessidade de sermos pacientes, cautelosos.
Para que possamos nos proteger e proteger a quem amamos, e garantir que seremos uma contribuição para que muitos não percam seus entes queridos precisamos da força de vontade para que sejamos capazes de perseverar nas atitudes de cuidados, para não sermos agentes de contaminação e até mesmo de agitação social com relação as medidas de orientação das autoridades cientificas.
Ao final desta Pandemia que vai passar, pois tudo passa, teremos que enfrentar a nós mesmo e as consequências de nossas escolhas. Espero que você possa colher os frutos da sua paciência, que se manifestou quando você tomou os cuidados necessários, todas as vezes que teve que sair de casa, bem como quando você mesmo desejando muito e, sentindo uma saudade dolorosa não foi visitar as pessoas que ama para protegê-las, quando você não repassou informações sobre o contexto atual de forma irresponsável e precipitadas, pois você avaliou que deveria ser cuidadoso, pois sua ação pode causar danos.
E, o que fazer para ter essa paciência? Não é necessário ficar no vazio causado por tudo aquilo que você não pode fazer. Você pode e deve preencher com atividades que lhe tornem alguém melhor, busque ler, escrever, meditar, organizar sua casa com amorosidade, busque conversar com as pessoas, por meios digitais, que faz tempo que não tem o prazer da sua atenção. Há tantas experiências que pode viver que a agitação não lhe permitia nem sequer perceber, sensações que precisam ser relembradas, como parar e contemplar o pôr do sol, o vôo dos pássaros, o sorriso de quem você ama, os animais de estimação e sua capacidade imensa de ser presença sem cobrança.
A impaciência tem a tendência de gerar a agitação, impulsividade, precipitação, conflito, caos, enfim seus resultados não são benéficos, dessa maneira você, eu e todas as pessoas temos que assumir que lugar queremos ocupar nessa Pandemia. Seremos parte daqueles que ao final sentirão, que apesar de toda perda e dor, irão sentir-se aliviados, pois dentro das suas possibilidades foram uma contribuição, ou daqueles que de alguma forma contribuíram para que o contágio fosse mais acelerado, causando mortes e sofrimentos, mesmo em quem nem sequer imaginaram?
Desejo, como parte da humanidade, que sejamos cada um dentro de sua possibilidade uma vibração de paz, e seremos essa vibração se mantermos o foco na paciência, na calma, no saber esperar com humildade de quem não é dono do saber, de quem não tem domínio do tempo e do futuro.
Quem espera sempre alcança, vamos esperar juntos e podermos celebrar unidos o final dessa Pandemia e, dessa maneira seremos uma humanidade melhor.