Final de Ano e como vai ser?
Festas de final de ano, após 17 anos de profissão como Psicóloga Clínica, percebo que a chegada do Natal e da passagem de ano são momentos de intensidade emocional. Diferente do que muitas pessoas pensam não são somente emoções de amor, paz, gratidão, mas emoções dolorosas como medo, raiva mágoa. Observando melhor vê-se uma inquietude, uma necessidade de algo que não se sabe bem ao certo o que é, uma angústia crescente que instigam as pessoas a questionarem seus relacionamentos amorosos, suas relações familiares e sua relação com o trabalho.
Surge então a pergunta o que acontece nestes momentos de fim de ano? E, após anos observando as urgências e emergências emocionais de fim de ano, me permito fazer algumas pontuações. É preciso compreender a complexidade do nosso sistema corporal, normalmente julgamos que somos aquilo que pensamos, mas o que pensamos conscientemente é apenas o que conseguimos acessar a partir do nosso lobo frontal, mas há contribuições e até invasões que advém do nosso sistema límbico. No sistema límbico encontramos estruturas como o hipocampo e a amígdala. Bom, o leitor diria sim, mas qual a função dessas estruturas e o qual a relação com as angústias de final de ano.
Resumindamente, o hipocampo exerce importantes funções relacionadas ao comportamento e à memória, ali estão memórias que denominamos de declarativas que possui contexto, e a amígdala possui como função global a percepção semiconsciente das situações e parece padronizar as respostas comportamentais apropriadas para cada ocasião e, é um importante centro regulador do comportamento sexual e da agressividade. Este conjunto nuclear é importante para os conteúdos emocionais das memórias.
Apresentando essas duas estruturas posso indicar qual é a relação entres elas e as festas de final de ano. Na verdade ao se aproximar essas datas, as similaridades com situações do passado acionam memórias, e infelizmente algumas memórias não são necessariamente tranquilas e prazerosas e, como uma atitude de autopreservação a amígdala dispara acionando o sistema cerebral para se preparar para o perigo. Dessa forma causando sentimentos e sensações de confusão, pois conscientemente sabemos que não há perigo, no entanto, há inquietação e ansiedade. Ou seja, situações, épocas do ano podem acionar memórias de traumas independente de nossa vontade consciente.
De acordo Peter Levine, trauma é tudo que nos aconteceu rápido demais, cedo demais, forte demais, fatores estes em conjunto ou isoladamente. Dessa forma é possível afirmar que todos nós de alguma forma vivemos algum trauma, e muitos podem estar relacionados a essa época do ano. E, podem ser acionados por imagens, sons, gostos, cheiros e de forma inconsciente. Sabemos que todo trauma vivido e que não tenha sido resolvido é como sujeira debaixo do tapete, não vemos, mas está lá, podemos dizer que o trauma é uma memoria de longa duração, ou seja, não importa se o trauma vivido foi quando você estava com cinco anos ou trinta, ele pode ser acionado 30, 40 anos depois, e nem sempre você consegue identificar sua origem.
Então, se você percebe que ao chegar essa época do ano fica angustiado, talvez precise investigar para além do seu contexto atual, é possível que não está relacionado ao seu relacionamento amoroso atual, mas com situações antigas. Talvez os encontros familiares de hoje apenas acionem memórias antigas e não sejam na realidade o problema. Enfim, só podemos viver o presente, quando o passado está onde deve estar. Mas, quando temos traumas, muitas vezes o passado invade como grandes ondas inundando tudo, nos trazendo situações de angústia, de ansiedade, de vontade de fugir.
O caminho é se observar e buscar perceber se seus sentimentos estão realmente conectados com o presente e com situações reais, ou são reações desconectadas dessa realidade e são confusas. Se perceber que há uma repetição, ou seja, todos os finais de ano se sente dessa forma, podemos estar falando do que chamamos de aniversário de trauma. Sim, aniversário de trauma é quando fatos atuais servem para acionar memórias traumáticas, e sempre se repetem quando o contexto se assimila.
Se você observar que está sofrendo repetidamente todos os finais de ano, ou que seus sentimentos, pensamentos estão confusos e angustiantes recomendo que procure ajuda profissional, procure um psicólogo que trabalhe com traumas, e com métodos como EMDR e, Brainspotting. Se você ficou curioso com relação a esses métodos, é só continuar atento ao site que em breve irei explicar esses métodos que são resolutivos em relação ao tratamento de traumas, simplesmente porque entendem como o cérebro funciona.
Mas, enquanto não é possível você buscar um profissional, busque neste final de ano fortalecer boas conexões neurológicas, e fazemos isso buscando estar vinculados a lugares da natureza, silêncio, boa música, e favorecendo atitudes e pensamentos de compaixão e gratidão. Esses sentimentos fazem maravilhas em nosso cérebro, auxiliam na produção de serotonina, e diminuem ativação de áreas relacionadas a emoções intensas como a amígdala cerebral.
Lembre-se independente dos seus traumas, você pode e deve buscar assumir sua vida, e isso só é possível com atitudes conscientes de buscar estar melhor consigo mesmo, e isso você não irá conseguir abusando de comidas e bebidas, mas buscando se alimentar, se nutrir de bons pensamentos e sentimentos. E, assim vamos construindo novas memórias, memórias saudáveis e felizes!! E, Feliz 2013!!!
** texto produzido para o site Arte de Viver em dezembro/2012.